A jornalista e académica norte-americana Courtney C. Radsch afirma, em entrevista à Lusa, que "a propaganda aumentou" nos últimos anos e que os media correm o risco de se tornarem obsoletos se não se adaptarem.
Courtney C. Radsch, da universidade norte-americana UCLA, é uma das oradoras da 3.ª edição da 'Lisbon Winter School for the Study of Communication', da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, que decorre entre 04 e 07 de janeiro e onde serão debatidos temas na área dos media e da propaganda e os seus impactos.
A sua apresentação será sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) na propaganda e media na Era da IA (Media and Propaganda in the Age of AI).
"Acho que, sem dúvida, a propaganda aumentou", é possível ver através de quantos governos no mundo ou partidos políticos usam empresas de relações públicas ou têm departamentos dedicados a criar conteúdo para tentar influenciar a opinião pública, diz, citando exemplos de países como Rússia, China e Irão, mas também em "lugares como Israel, EUA e UE".
Para a responsável, o "desafio com o enquadramento da desinformação é separar o facto de que uma parte significativa" desta "é propaganda", aponta. Outras partes da desinformação "são factualmente imprecisas, notícias falsas", onde se aplica a verificação de factos ('fact-checking').
Mas muita desinformação não é um problema verdadeiro ou falso, "é uma questão de perspetiva", prossegue.
"É uma questão de minar" os sistemas de poder, questionar e ser antissistema, o que não pode ser resolvido com 'fact-checking', sublinha.
Por isso, Courtney C. Radsch defende que é preciso fazer "um melhor trabalho de discussão" sobre o que realmente se está a falar.
"E eu sugeriria que as operações de influência -- que incluem propaganda, desinformação", que não é tentar fazer propaganda e influenciar, mas "são apenas imprecisões e partilha, entre outros" -- e a "criação de informação economicamente motivada são os principais tipos que vemos", detalha.
"Vamos precisar que as organizações de media se adaptem a isso", tal como os governos, prossegue.
Na sua opinião, quer a propaganda como a desinformação vão ser mais complexas no futuro.
"Vai ficar mais complexo e mais difícil de detetar e mais fácil para mais pessoas ficarem envolvidas nisso", remata.
Questionada sobre como vê o futuro dos media dentro de três a cinco anos, caso não sejam tomadas medidas no âmbito do desenvolvimento da nova Era da IA, Courtney C. Radsch é perentória: "Acho que os media correm o risco de ficar obsoletos".
E reforça: "Correm o risco de ficar obsoletos se não conseguirem descobrir que jornalismo e que 'fact-checking' e que autenticação significa nesta Era e como é que vão educar e informar os leitores e espetadores".
Além disso, vão ter de descobrir como usar a IA nas suas próprias redações e como podem ser melhores especialistas na verificação, autenticação de factos e em tudo o que está relacionado com isso.
"E terão que descobrir como distinguir o tipo de conteúdo e o seu papel na sociedade e na política dos dados de qualquer outro criador de conteúdo", vaticina.
Além de Courtney C. Radsch, a 3.ª edição da Lisbon Winter School for the Study of Communication conta também com Nina L. Khrushcheva (The New School), neta do ex-líder da URSS, numa intervenção sobre o tema da Propaganda na Rússia, após declarações contra a guerra na Ucrânia e o regime de Putin.
Entre os nomes que irão marcar presença, encontram-se investigadores e especialistas das ciências da comunicação, história, relações internacionais, sociologia e psicologia de algumas das mais prestigiadas universidades internacionais.
A Lisbon Winter School for the Study of Communication, que terá lugar na Universidade Católica Portuguesa e no Centro Cultural de Belém, é organizada pelo programa de Doutoramento em Ciências da Comunicação e o Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Faculdade de Ciências Humanas em parceria com o Center for Media at Risk da Annenberg School for Communication (University of Pennsylvania), a School of Journalism and Communication (Chinese University of Hong Kong), a Annenberg School for Communication and Journalism (University of Southern California) e a Faculty of Social Sciences (University of Helsinki).
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