Zelenskii impôs-se como a figura-chave, que personifica o Estado soberano e é o espelho do povo e da resistência. Tem posto a experiência como ator e influencer ao serviço da guerra de informação e da conquista dos corações.
A centralidade da Internet, das redes sociais e dos smartphones no mundo contemporâneo tornou inevitável a digitalização e a datificação da guerra na Ucrânia. A desplataformização de Putin e a hiperplataformização de Zelenskii mostram na perfeição como as tecnologias são uma infraestrutura vital num conflito que, se dúvidas ainda houvesse, também demonstra como as grandes empresas tecnológicas são atores políticos incontornáveis na atualidade.
Esta realidade digital reflete-se, igualmente, na estratégia de comunicação do Governo ucraniano. De facto, estamos a assistir a uma nova forma de fazer comunicação de guerra na era da conectividade, cuja originalidade reside na aposta numa campanha grassroot [raízes de erva, cuja força decorre da rede horizontal].
Sendo a de Barack Obama a mais conhecida, estas campanhas grassroot são bem-sucedidas quando conseguem mobilizar os cidadãos comuns e acrescentar modalidades ativas de envolvimento: voluntários para ajudar na organização, participantes para assistir aos eventos e donativos para a causa. O empenho online é indissociável: a produção de conteúdos, a somar aos dos organizadores, é fundamental para que o tema se dissemine pelas várias plataformas e se mantenha no topo da atenção dos usuários. A construção de uma liderança inspiradora é imprescindível para mobilizar e manter a comunidade envolvida e motivada, bem como para alimentar a visibilidade mediática e a notoriedade pública da causa.
A Ucrânia está a fazer isto tudo de modo muito profissional. Com uma hábil estratégia de comunicação, posicionou discursivamente o conflito muito para além da disputa geográfica e identitária. À defesa do território físico associou a dos valores do mundo livre e elevou a guerra a uma luta pela democracia, constituindo-se, assim, uma causa com ressonância internacional.
Nota: Pode ler o artigo na íntegra na edição impressa do Público de 12 de março de 2022 ou online aqui.