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Susana Costa Ramalho: "Precisamos de cuidar da Saúde Mental"

Monday, October 10, 2022 - 11:51
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Diário de Notícias

Celebra-se hoje o Dia Mundial da Saúde Mental, um dia internacional para a educação, conscientização e defesa da saúde mental global contra o estigma social.

A vivência do cenário de guerra e stresse económico que tristemente enquadra os nossos dias, acumulando-se, sem tréguas, aos dois anos e meio profundamente alterados pela pandemia, geram contextos globais com impacto severo na saúde mental e no bem-estar das pessoas e das famílias em todo o mundo. Estima-se que a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em pelo menos 25%, assim como cresceram gravemente os comportamentos de automutilação, pensamentos e comportamentos suicidas (ONU, 2022). Sobressaem os jovens, as mulheres, os idosos e os grupos sociais mais vulneráveis como correndo, ainda, riscos mais elevados. Lamentavelmente, estes números serão apenas a ponta do iceberg.

Com o avanço do conhecimento científico, sabe-se que a saúde mental é influenciada por múltiplos fatores, de que são exemplo a predisposição genética, o contexto socioeconómico, experiências infantis adversas, dinâmicas familiares, abuso de substâncias, etc. Sabe-se ainda que a saúde mental se liga ao bem-estar nos mais diferentes níveis, como o individual, familiar, comunitário e social, sendo influenciada pelas políticas e medidas nos múltiplos setores, como educação, saúde, emprego, justiça, solidariedade social, segurança, discriminação, qualidade ambiental, apoio às famílias, entre outras.

Esta relação é bidirecional, pelo que sem uma matriz de prevenção, apoio e tratamento ajustados no plano da saúde mental, são expectáveis impactos significativos sobre os sistemas económico, social, educativo e penal. Isto traduz-se, entre tantos outros, em riscos do insucesso escolar, da deterioração da saúde física, do desemprego, das crises familiares e do isolamento social que tenderão, naturalmente, a aumentar.

Ter saúde mental significa sentir-se globalmente bem, a nível psicológico, emocional e social. Significa ser capaz de se autorrealizar e estabelecer relações significativas com outras pessoas, ser produtivo no trabalho e contribuir para a vida da comunidade, assim como sentir-se capaz de superar os desafios, tristezas e inesperados próprios da vida humana. Muitos de nós não se sentirão capazes, em algum momento, de se encontrar assim sem a ajuda profissional de psicólogos e psiquiatras.

Neste domínio, o aumento na prevalência de problemas de saúde mental coexiste, também no nosso país, com lacunas graves no acompanhamento profissional dos que mais precisam. Enfatiza-se, pois, a necessidade de desenvolver e fortalecer serviços de saúde mental e apoio psicossocial como parte da resposta às vulnerabilidades individuais e familiares, bem como às reais emergências de saúde pública que vivemos nos últimos tempos. Quando, no mais recente Atlas de Saúde Mental da OMS, se evidencia que pouco mais de 2% dos orçamentos de saúde da generalidade dos governos são gastos em saúde mental, reconhece-se a fragilidade de um subinvestimento que importa contrariar.

No cenário atual, urge reconhecer o importante contributo da academia para que esta data se reflita em muito mais do que apenas um dia no calendário. A formação é um passo inicial fundamental para que, nesta realidade, possamos contar com profissionais que dominem competências transversais aos vários domínios de estudo e um sólido treino em investigação e aplicação da ciência psicológica à resolução de problemas societais.

Susana Costa Ramalho, Professora Auxiliar da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa

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