É um dos grandes acontecimentos editoriais de 2021: "Divina Comédia", de Dante Alighieri, tem nova tradução portuguesa, respeitando a sua "terza rima" e todas as especificidades do poema original, um dos mais importantes do cânone ocidental. Assina-a Jorge Vaz de Carvalho, homem de muitas vidas, cantor lírico nos anos 90, gestor cultural na primeira década deste século, ensaísta e estudioso, professor da Universidade Católica Portuguesa.
Quando começa a ler sente muitas vezes o impulso de traduzir aquele texto que o inebria e encanta. Em cada tradução que assina Jorge Vaz de Carvalho, 66 anos, procura não só respeitar a melodia da língua de partida, como imaginar como poderia ser um livro caso o autor o tivesse escrito em português. Fê-lo com o Ulisses, de James Joyce, que lhe valeu o Grande Prémio de Tradução Literária APT/SPA 2015, com Ciência Nova, de Giambattista Vico, distinguido com Prémio de Tradução Científica e Técnica FCT/União Latina 2006, e com William Blake, Jane Austen, Virginia Woolf ou Baldassarre Castiglione. E também o faz agora com Dante Alighieri e a sua Divina Comédia, que considera ser uma das grandes obras de todos os tempos.
Um trabalho de vários anos, iniciado ainda na década de 90, durante a sua carreira de destacado cantor lírico em Itália (e em muitos outros pontos do mundo) e que aprofundou nos últimos anos, a partir do momento em que, livre da gestão de projetos na área da cultura e da música (foi diretor da Orquestra Nacional do Porto, entre 1999 e 2006, e diretor do Instituto das Artes, entre 2005 e 2007), se tem dedicado à investigação, ao ensino (na Universidade Católica Portuguesa) e justamente à tradução.
Para recriar em português a terza rima da Divina Comédia, e todas as cambiantes do texto de Dante, socorreu-se não só da sua sensibilidade poética (publicou, em 1992, o volume A Lenta Rendição da Luz) como de toda a sua formação musical. E vê esta tradução também como uma defesa da nossa língua. "A Divina Comédia não pode ser traduzida num português qualquer", defende. "Implica um profundo amor à língua e à cultura portuguesas".
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