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Rita Francisco: “Receamos que a ansiedade e depressão nas crianças e adolescentes se intensifique”

Wednesday, February 24, 2021 - 00:00
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Expresso

O atual confinamento, decretado a 15 de janeiro, assemelha-se em quase tudo ao primeiro, que teve início em março do ano passado, mas as crianças e adolescentes estão agora mais ansiosos. Os resultados preliminares do estudo que o Centro de Investigação do Bem-Estar Psicológico, Familiar e Social da Universidade Católica (CRC-W) está a realizar sobre o impacto psicológico do confinamento nestas faixas etárias assim o mostram. Segundo o estudo, cujos dados estão a ser recolhidos desde o primeiro dia do atual confinamento, os níveis de ansiedade nas crianças e adolescentes com idades entre os 3 e os 18 anos são mais elevados (valor médio de 6,43, a comparar com 5,94, numa escala de 0 a 24). Foram reportadas “mais alterações nos sintomas associados à ansiedade”, de que se destaca “o estar ansioso, agitado e perguntar sobre a morte”. Em geral, crianças e adolescentes estão “mais zangados” (34,1%, quando no primeiro confinamento essa percentagem era de 27,3%) e “choram com mais facilidade” (24,1% vs 19,6%). Os níveis de depressão são, contudo, inferiores, e as crianças e adolescentes também se sentem menos sozinhos e menos aborrecidos do que se sentiam em março. Vários fatores explicam isto, mas Rita Francisco, professora e coordenadora do centro de investigação responsável por este estudo, chama a atenção para o que se tornou comum por estes dias designar de “fadiga pandémica”, não a destas crianças e adolescentes,mas a dos seus pais. “Percebemos que este stresse parental devido à pandemia está muito associado ao aumento da ansiedade e depressão nas crianças.” Ou seja, “elas são, em parte, o reflexo do que os pais também sentem”, explica ao Expresso a investigadora. Sobre o stresse manifestado por jovens e crianças há um dado que salta à vista. Mais de metade dos inquiridos (53%) atribuiu-o à redução dos contactos sociais, sendo este considerado um dos fatores com mais impacto emocional e psicológico. “Nas crianças, e sobretudo nos adolescentes, as interações sociais são fundamentais para o desenvolvimento social, emocional e construção da identidade”, explica Rita Francisco, segundo a qual a falta de contacto com colegas e amigos foi das preocupações “mais indicada pelos participantes”. A boa notícia é a diminuição dos níveis de depressão, que pode estar relacionada com o facto de crianças e adolescentes se terem confinado desta vez depois de um período, durante o passado ano letivo, em que “puderam voltar à escola e ao contacto presencial com amigos, colegas e professores”, explica a investigadora. Será necessário, contudo, “aprofundar estes dados”, ressalva, até porque o segundo confinamento começou há pouco tempo. “É possível que daqui a algumas semanas estes resultados tenham alterações significativas. E que os sintomas de ansiedade e depressão se intensifiquem e agravem devido à atual situação epidemiológica.” Crianças e adolescentes foram identificados pelos especialistas como grupos vulneráveis desde o início da pandemia de covid-19. Os resultados do estudo da Universidade Católica acabam por justificar essa preocupação. Mais de metade (50,9%) dos participantes estão mais preocupados comparativamente ao período antes da pandemia; também estão mais ansiosos, nervosos, agitados e tristes. Quase metade tem medo do vírus (45,7%) e cerca de um quarto pergunta mais vezes sobre a morte (24,6%). Uma percentagem significativa destas crianças e adolescentes sente-se frustrada (37,1%) e, segundo os seus pais, “discutem mais com o resto da família” e têm mais dificuldades em se concentrar, sobretudo as crianças mais velhas. Destaca-se ainda outro dado: mais de um terço (38%) dos participantes está “muito mais” dependente de dispositivos eletrónicos, como o telemóvel e o computador. Há diferenças entre raparigas e rapazes, com as primeiras a manifestarem maior ansiedade. A depressão afeta-os, contudo, de forma semelhante.

Nota: Pode ler o artigo na íntegra na edição impressa do Expresso.