Investigadores do CECC criam Nanogaleria Online

Quarta, Abril 15, 2020 - 12:23
CECC_Nanogaleria_Online

A nanogaleria é um projecto curatorial independente que as investigadoras do CECC, Luísa Santos e Fabíola Maurício, criaram há cerca de dois anos com a intenção de desenvolver ideias de um modo experimental que reflectissem sobre o mundo no qual vivemos. Acreditam que a arte pode ter um papel social e político da mesma maneira que cada um de nós pode tomar esse papel enquanto indivíduo. À maneira do que Joseph Beuys disse nos anos 70 do século XX, todos temos um potencial transformador, todos somos matéria passível de mudança. Se usamos ou não esse potencial, de que modo e como o usamos, cabe a cada um de nós decidir. A arte e os artistas que escolhem não reflectir directa, social e politicamente sobre o mundo, não são menos arte nem menos artistas por essa decisão. Contudo, a nanogaleria é assumidamente um projecto curatorial que tem a intenção de reflectir e agir sobre as múltiplas narrativas que determinam os espaços que habitamos. Perante a situação planetária actual, todos somos forçados ao isolamento social para nosso próprio bem e sobrevivência. Mas as condições e as consequências do isolamento não são iguais para todos no mundo, nem em cada continente, nem em cada país, nem em cada cidade, nem em cada bairro. Para muitos, este isolamento equivale a um silêncio que permite reflectir. Para muitos outros, esse silêncio imposto é ensurdecedor e significa perda de rendimento e, em muitos casos, perda de direitos e, no limite (pensemos nos casos de violência doméstica, agora com muitas mais oportunidades de crescer), perda da vida. A nanogaleria é um espaço privilegiado. Podemos escolher estar em silêncio, em total inacção e tomar esta escolha como uma decisão política – afinal, parar é necessário para avançar. Contudo, perante a velocidade das múltiplas mudanças que a humanidade está a viver, as investigadoras do CECC decidiram não usar o privilégio de estar em silêncio e de parar. Luísa e Fabíola escolhem, pelo contrário, o privilégio da acção e da voz. Numa fase em que vivemos uma história iminente, superabundante e quasi-monotemática, e em que os lugares de memória são constantemente substituídos por lugares de conjectura, acreditam que se torna mais importante do que nunca a inteligibilidade e a tentativa de compreensão do passado/presente/futuro. Para isso querem continuar as colaborações com artistas, as mostras dos seus trabalhos, e as procuras em conjunto de significados, de (re)criações e de (re)invenções.

Até voltarmos a poder apresentar trabalhos em espaço físico, elas dão este espaço virtual a artistas para mostrarem trabalho existente, guardado nas sombras silenciosas dos seus ateliers, ou trabalho novo, que ainda não tenha tido oportunidade de ser mostrado. Esperam que com esta acção, a uma escala nano, outras acções, vozes, narrativas e propostas se multipliquem. Ao modo das propostas para o próximo milénio de Ítalo Calvino, que esta acção passe um conjunto de valores para descrever o mundo no qual vivemos.


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