A situação pandémica provocada pela COVID-19 deve fazer-nos refletir sobre o modo como as sociedades estão organizadas, não só politicamente, mas por todos aqueles que habitam a "cidade". Num curto espaço de tempo levou a que tivéssemos de reformular a forma de habitar este espaço comum de relações possibilitadoras da satisfação das necessidades humanas, sendo que a complexidade e diversidade dessas necessidades vão muito para além daquilo que a organização política pode proporcionar. De facto, temos necessidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas que exigem relações de proximidade com os outros e que o Estado, podendo facilitar, não pode satisfazer. Estas são necessidades tão importantes como as de segurança e bem-estar ou de conforto material e físico. Não será por acaso que, nos estados de direito democráticos, o direito à Saúde e o direito à Educação alcançam uma dimensão universal.
Se a situação pandémica que vivemos nos desperta para o que de melhor podemos observar na natureza humana, em particular nos agentes de saúde pública que, com o seu sacrifício pessoal e familiar, zelam pelo bem-estar e pela saúde dos seus concidadãos, esta também veio revelar como é possível, em tão curto espaço de tempo, adotar mecanismos possibilitadores da satisfação de outras necessidades, tais como as cognitivas e de aprendizagem.
Neste contexto particular, a educação à distância veio a afirmar-se não só como um recurso inevitável face à situação, mas como um recurso que, ao contrário de ser a afirmação do distanciamento social e da incapacidade de relação próxima entre educador e educando, proporciona o contato, combate o isolamento e propicia a vivência de experiências de aprendizagem que de outro modo não existiriam. Não se trata de advogar a substituição de um modelo por outro, mas de reconhecer que a educação à distância possui as suas próprias virtudes.
O programa de Pós-Graduação em Filosofia para Crianças e Jovens - à distância (b-learning), acreditado pelo CCPFC - Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua, já em curso antes do surgimento da pandemia, concretiza as virtudes do ensino à distância, não só pela possibilidade de ministrar um ensino de reconhecida qualidade a nível científico - seja através de plataformas informáticas, seja através da videoconferência - mas também pela possibilidade de implementação de práticas pedagógicas inovadoras.
Desde logo, este regime à distância permite uma maior gestão do tempo no processo de ensino/aprendizagem por parte do discente, conferindo-lhe a autonomia necessária para desenvolver o seu pensamento crítico, a análise reflexiva, o aprofundamento dos seus interesses particulares, a fundamentação do seu saber, mas também a inserção numa comunidade de diálogo e de partilha de saberes e experiências, não descurando uma componente prática de operacionalização com crianças e jovens. Podemos, assim, identificar, de forma imediata, algumas características que refletem as virtudes deste tipo de ensino, através de um suporte informático organizado e permanentemente acessível como, a troca de ideias nas discussões promovidas, a realização de trabalhos colaborativos, a execução de tarefas/atividades online e a disponibilização/acesso a recursos bibliográficos e meios audiovisuais complementares à aprendizagem.
Trata-se de um novo paradigma de ensino que comporta, sem dúvida, os seus desafios, mas são desafios inerentes à nova forma em que estamos a ser chamados a habitar na nossa "cidade".
Luís Lóia
Coordenador da Licenciatura em Filosofia (b-learning) e da Pós-Graduação em Filosofia para Crianças e Jovens (b-learning)
Ler o artigo na Mundo Pais & Filhos aqui.