Os comentadores residentes do magazine dos domingos, a professora de Ciências da Comunicação e Comunicação Política da Universidade Católica de Lisboa, Rita Figueiras, e o sociólogo e professor do ISCTE, Paulo Pedroso, analisam hoje passagens mais relevantes de duas entrevistas do historiador norte-americano Timothy Snyder, o autor de "Sobre a Tirania : 20 lições do século XX para o Presente". Nesse livro, Snyder alertava para os perigos trazidos ao jornalismo e à sociedade pela entrada de Donald Trump no reino das fake news. Snyder confirma, na conversa com Juan Cruz, do "El Pais", que com a pandemia o livro voltou a ser muito procurado.
Um ponto sublinhado por Timothy Snyder: "Trump é um exemplo de alguém capaz de lançar para o ar desinformação num momento em que não necessitamos senão de simples factos". Rita Figueiras responde à pergunta que trata de saber se a omissão dos factos é uma peça essencial da adopção de práticas autoritárias. E, partindo da tese de Snyder de que "a desinformação é de graça e os factos requerem trabalho", discorre sobre o preço que pagamos devido à nossa eventual preguiça cívica. Rita Figueiras aborda ainda a passagem da entrevista de Snyder ao jornal "El Pais" referente à importância do jornalismo local, no quadro da covid-19 nos Estados Unidos. "Quando a doença chegou a Seattle", lembra o historiador, "não tínhamos repórteres suficientes no terreno capazes de informar sobre o modo como as pessoas chegavam aos hospitais e o que isso significava. A falta de repórteres locais é perigosa. Os jornalistas servem também como um banco de memória". Snyder invoca um estudo recente da Lancet que reforça a sua tese, ao relevar o facto de que " a transparência ajuda a controlar as doenças".
O sociólogo Paulo Pedroso analisa uma outra entrevista de Snyder, desta vez à plataforma independente de notícias Rappler, com sede nas Filipinas. Nessa entrevista realizada no início de Março, o historiador norte-americano evidencia os padrões políticos que foi observando nos seus estudos sobre a História do século XX e o significado que lhes atribui para o futuro das democracias. Snyder localiza no início da globalização o mesmo padrão que já identificara no início do século XX : o do retrocesso da democracia e o da percepção de que, afinal, a via liberalizante não se afigura inevitável. Para Snyder, a diferença entre o tempo que vivemos e o dos grandes totalitarismos é a de que agora "não há verdade". "Os grandes totalitarismos", diz ele, "tinham a sua verdade única. Os autoritarismos de agora não têm qualquer verdade para nos dar". A pergunta colocada pelo editor do programa é simples: perdemos o jogo quando já não sabemos que verdade exigir?
A emissão deste domingo acolhe ainda anotações de Rita Figueiras a uma entrevista concedida ao jornal Heraldo pelo jornalista e filólogo David Felipe Arranz, professor da Universidade Carlos III em Madrid. Ferranz acaba de publicar o livro "Os Cem Melhores Filmes sobre Jornalismo". Na entrevista, ele fala do interesse já antigo do cinema pelo jornalismo, passa em revista filmes sobre repórteres de guerra, enaltecendo o que chama "uma paixão insaciável por aquilo que fazemos". Mas fala também de filmes em que os proprietários dos grandes meios tantas vezes atraiçoam o objectivo central do jornalismo.
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