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Ana Oliveira: A Importância da Avaliação de Impacto Social em Tempos de Pandemia

Terça-feira, Junho 16, 2020 - 12:47
Publicação
Espaço do Assistente Social

No mundo inteiro, a pandemia de Covid-19 está a levantar desafios de magnitude sem precedentes. O lema de que “vai ficar tudo bem” rapidamente cai por terra quando analisamos as consequências sociais e económicas.

Faculty_Ana Oliveira

Vivemos tempos de complexidade, e consequentemente não é possível realizar leituras lineares sobre a realidade que vivemos e que vamos viver. A pós-modernidade,marcada pela mudança permanente, trouxe-nos a incerteza como a única certeza e, são muitos osque nos dão consciência de uma sociedade em permanente mudança (Bauman, 2001), cujos riscos, como refere Giddens, temos de aprender a gerir. António Costa Silva, professor universitário, referiu recentemente num artigo de opinião que esta crise exige um novo pensamento, um novo modelo económico e social, uma nova ordem internacional e que não basta dizer que nada será como antes, sendo necessário trabalhar com uma nova energia e ação para nada ser como antes.

Mas como podemos então agir face ao futuro que não conhecemos? É neste contexto, que na minha análise, se torna necessário encontrar mecanismos que permitam avaliar de forma coerente e robusta as mudanças e/ou impactos sociais trazidos pela pandemia, bem como as medidas e ações implementadas. Será fundamental ter um bom sistema de monitorização e avaliação que permita retirar conclusões e que nos ajude a preparar para os tempos futuros.

É verdade que não temos neste momento nenhuma certeza, mas podemos ir tendo evidências que nos permitam saber algumas coisas e perspetivar.

Na Pós-Graduação em Avaliação de Programas e Projetos Sociais que coordeno, muitas vezes sublinhamos a importância de saber perguntar para poder avaliar e, são muitas e de variada ordem as perguntas que podem ser colocadas. Qual o impacto efetivo das medidas que se estão a implementar nos mais diferentes países? Quais as áreas com maior necessidade de intervenção? Qual a eficácia das respostas que estão a ser dadas?

Muitos dos problemas sociais já existiam e ganham relevância pelas circunstâncias atuais, outros novos problemas surgem e com eles novas e velhas respostas sociais.

Há necessidade de dar respostas rigorosas e fundamentadas em evidências, de estabelecer nexos causais entre intervenções e mudanças sociais e este processo não é uma tarefa simples nem tem uma resposta única.

Artigos e livros publicados sobre avaliação referem que esta não pode dar certezas face à complexidade do real, tal como não consegue explicar de forma absoluta a transformação da realidade, mas pode-se perspetivar e definir vias de possibilidade.

“Seremos diferentes depois desta crise?”, perguntavam nestes dias num ciclo de conferências dinamizado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Só poderemos ser diferentes, se percebermos onde e como poderemos efetivamente fazer a diferença e esse é o papel de uma boa avaliação. Sendo fundamental, não deveríamos apenas estar preocupados em responder.

Em paralelo, é necessário preocuparmo-nos em compreender se a resposta dada é a que efetivamente temos de dar e aprender com o processo. Tanto a nível nacional como internacional, será fundamental ter sistemas de monitorização e avaliação que permitam identificar e gerir os impactos do coronavírus e que possibilitem construir as capacidades de resposta a crises futuras, especialmente em economias mais frágeis. Um bom sistema de monitorização e avaliação poderá permitir políticas mais eficazes e eficientes e assim também uma maior proteção social e económica.

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